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Os efeitos das drogas no trânsito

Os efeitos das drogas no trânsito - ednaglauber

Neste artigo, pretende-se destacar a importância da psicologia do trânsito para auxiliar uma possível mudança de comportamento e a importância de uma lei mais específica para o uso de substância psicoativa.

Considerando que um condutor sobre efeitos de drogas psicotrópicas não se importa com leis e punições, o apelo que o automóvel exerce como símbolo de poder, potência e status é aproveitado com grande risco de vida.

EFEITO DA DROGA NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

O consumo da cocaína traz como efeito a euforia, excitação, sensação de onipotência, falta de apetite, insônia e aumento ilusório de energia. Após este efeito inicial, vem uma forte depressão que leva o usuário a consumir nova dose, voltando àqueles efeitos seguidos novamente por depressão, entrando num ciclo em que vai aumentando a dose que pode levá-lo até a morte em alguns casos(Sodelli, 2010).

A principal forma de consumo da cocaína é aspirando-a, pois normalmente se apresenta sob a forma de um pó, mas também alguns usuários a diluem e injetam diretamente na corrente sanguínea, o que eleva o risco de uma parada cardíaca fulminante, que é a chamada “overdose”.Quando um indivíduo recebe um estimulo, de seus órgãos do sentido, a “mensagem” é enviada ao Sistema Nervosos Central SNC, onde ocorre o processamento da informação, interpretação, elaboração, memorização, associações, entre outros. Esses processamentos ocorrem em milésimos de segundos e se repetem milhares de vezes ao longo de um único dia. (Revista IMESC nº, 2001.pp 2)

O SNC é formado por bilhões de células interligadas, formando uma complexa rede de comunicação. Essas células, responsáveis pelo processamento das informações, são denominados “neurônios. Para transmitir a informação, o neurônio (pré-sináptico) libera substâncias químicas denominadas “neurotransmissoras” que agem como verdadeiros mensageiros, transmitindo a mensagem para o neurônio subsequente (pós-sináptico), o qual recebe a informação através de sítios específicos denominados “receptores”. Alguns dos neurotransmissores mais conhecidos são: acetilcolina, dopamina, noradrenalina, serotonina, GABA e glutamato. Cada uma dessas substâncias é responsável por funções especificas, e elas estão distribuídas de forma heterogênea no SNC, em sistemas que recebem o nome do neurotransmissor envolvido (sistema colinérgico, dopaminérgico e assim por diante). (Revista IMESC nº, 2001.pp 3).

A relação de neurotransmissor a receptor pode resultar num certo número de diferentes alterações na membrana pós-sináptica.

As substâncias psicoativas têm a propriedade de imitar os efeitos de neurotransmissores naturais ou endógenos, ou de interferir com a função normal do cérebro bloqueando uma função, ou alterando os processos normais de acumulação, liberação e eliminação de neurotransmissores.

Um mecanismo importante de atuação das substâncias psicoativas é o bloqueio da recaptura de um neurotransmissor depois da sua liberação pelo terminal pré-sináptico. A recaptura é um mecanismo normal de eliminação do transmissor da sinapse pela membrana pré-sináptica. As substâncias psicoativas que se ligam e reforçam as funções dos receptores são chamadas agonistas, enquanto as que se ligam para bloquear a função normalmente são chamadas antagonistas (OMS, 1981).

A cocaína inibe a reabsorção dos neurotransmissores norepinefrina, serotonina e dopamina. A inibição da reabsorção prolonga e intensifica os efeitos dos neurotransmissores dentro e fora do sistema nervoso central (SNC). A cocaína acelera o ritmo e a potência da função cardíaca, aumentando a quantidade de norepinefrina nas junções neurais do coração. As consequências do aumento da quantidade de norepinefrina incluem ataques cardíacos, derrames, deficiências orgânicas (Longenecker, 2002).

O indivíduo sob efeito de cocaína está mais propenso a assumir comportamentos de risco, o que pode levar a um envolvimento maior em acidentes de trânsito. O prejuízo no desempenho observado pode ser em razão da perda de concentração e atenção, e maior sensibilidade a luz, em virtude das pupilas dilatadas. Além disso, sintomas psicológicos, tais como paranoia e alucinações, podem influenciar no comportamento na direção (Transportation Research Board, 2006).

Outra droga muito consumida chama-se cannabis conhecida como maconha, a principal substância química com princípios alucinógenos presentes é o THC (Tetraidrocababinol), grupo dos canabinóides. Depois de consumir a cannabis, a pessoa pode apresentar alguns efeitos físicos, como memória prejudicada, confusão entre passado, presente e futuro, sentidos aguçados, mas com pouco equilíbrio e força muscular, perda da coordenação, aumento dos batimentos cardíacos, percepção distorcida, ansiedade, olhos avermelhados por causa da dilatação dos vasos sanguíneos oculares, boca seca e dificuldade com pensamentos e solução de problemas. (Gontiès e Araújo, 2003).

A cannabis é uma droga ilícita mais utilizada por motorista em todo mundo. A droga influência no desempenho psicomotor e cognitivo e as funções afetivas. Dessa forma, são afetados no motorista, a coordenação, a vigilância e o estado de alerta e, consequentemente a capacidade de dirigir. O tempo passaria, na percepção do indivíduo drogado, de forma mais lenta, um minuto podendo parecer mais de uma hora, e as distâncias calculadas muito maiores do que realmente são. Um túnel com 10 metros de comprimento pode parecer ter 50 ou 100 metros. Os efeitos debilitantes se concentram nas primeiras duas horas, mas podem durar por mais de cinco horas. (Ponce e Leyton, 2008). Sob o efeito da maconha o motorista tem prejudicada a vigilância e a performance. Diante de tais alterações é indiscutível o prejuízo causado na capacidade de conduzir veículos automotores quando o indivíduo se utilizou da cannabis. (Souza e Muñoz, 2002).

Segundo Ramaekers et al, (2004) foram realizados testes experimentais com concentração de até 300 mcg tetra hidrocanabinol /kg fomentamefeitos semelhantes à dose de mais de 0,5 g/l de etanol.As drogas psicotrópicas assumem um papel de destaque no cenário dos acidentes de trânsito. Um estudo da Associação Brasileira dos departamentos de trânsito (Abedetran) envolvendo quatro capitais brasileiras: Salvador, Curitiba, Recife e Brasília, detectou que em 27,2% dos casos analisados de vítima de acidentes de trânsito, a dosagem de álcool no sangue excedia o valor de 0,6g/l limite permitido pelo novo código nacional de trânsito. Entre os demais psicotrópicos, destacaram a maconha (detectada em 7,7% dos casos), os benzodiazepínos (3,4%) e a cocaína (2,3%) ( Abdetran, 1997).
Dirigir é uma tarefa difícil na qual o condutor recebe informações continuamente, analisa-a e reage a respeito desta. Substância que tem uma influência em funções cerebrais ou em processos mentais envolvidos na condução certamente irão afetar seu desempenho. (Ponce e Leyton, 2008).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o nú¬mero de mortes decorrentes de acidentes de trânsito deve ul¬trapassar um milhão de pessoas em 2015 e reconhece como uma das causas principais desses acidentes o consumo de Substâncias Psicoativas. De acordo com Minayo (2009), acidentes de trânsito e homicídios são os principais tipos de óbitos que caracteri¬zam mortes violentas no Brasil. Na década de 1990, o Brasil teve 310 mil mortes relacionadas com acidentes de trânsito, excluindo-se os casos de acidentes que não tiveram vítimas fatais.

Kelly E. et al, 2004 apud Soibelman et al (2010), os acidentes de trânsito também são responsáveis por grande parte dos atendimentos em Centros de Atendimento a Emergência ou Trauma (CAET), e estão fortemente associados ao uso de substâncias psicoativas. Em hospital de trauma americano, foram testadas para uso de álcool e dro¬gas vítimas de acidentes de trânsito (que representaram aproximadamente dois terços dos atendimentos realizados naquele período). Des¬tas, 65,75% apresentaram screening positivo para álcool ou drogas, sendo a metade positivo para outras drogas – exceto álcool – e um quarto positivo para maconha.
Acidentes de trânsito estão relacionados a diversos fatores causadores: deficiência na conservação de veículos e estradas, consumo de substâncias psicoativas, falhas humanas, dentre outros. Tanto os fatores causadores quanto a intensidade dos acidentes fatais variam bastante entre os municípios brasileiros (Minayo, 2009).

Tentativas de controlar o uso de drogas no trânsito, no entanto, estão sujeitas a lacunas no conhecimento sobre drogas e uma gama de dificuldades práticas e, muitas vezes, influenciadas por interesses políticos. Ações conjuntas de educação e fiscalização ostensiva são fundamentais para se obter melhoria na segurança de trânsito. (Word Health Organization, 2004).

O Código de Transito Brasileiro (CTB), instituído pela Lei 9.503, de 23 de setembro de 1997 e alterado pela Lei 11.725/06, no seu artigo 165, estabelece que o motorista que “dirigir sob a influência de álcool, em nível superior a seis decigramas por litro de sangue, ou de qualquer substancia entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica” comete uma infração gravíssima, tem multa e suspensão do direito de dirigir como penalidade. Além disso, e considerado crime de trânsito o motorista que “conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substancia de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem”, conforme dita o artigo 306 do CTB. Nesse caso, o condutor pode ter detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor (BRASIL, 1997; BRASIL, 2006).

Entretanto, para o cumprimento da lei, e necessário que a ela seja regulamentada, de forma a serem definidos claramente quais os grupos de drogas que são proibidos no transito brasileiro, pois, nos artigos citados nos parágrafos anteriores, são mencionadas “qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica” e “substância entorpecente, tóxica ou de efeitos análogos”, respectivamente. (Ponce e Leyton, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No entanto, o indivíduo sob efeito de substância psicotrópicas está mais propenso a assumir comportamentos de risco, o que pode levar a um envolvimento maior em acidentes de trânsito.

O prejuízo no desempenho observado pode ser em razão da perda de concentração e atenção, e maior sensibilidade a luz, em virtude das pupilas dilatadas. Além disso, sintomas psicológicos, tais como paranoia e alucinações, podem influenciar no comportamento na direção.

Edna Glauber
Psicóloga Cognitiva Comportamental
REFERÊNCIAS

Longenecker,G.L (2002). Drogas ações e reações: O que provoca o uso contínuo das drogas; Como as drogas atingem o cérebro. São Paulo: Market Books.
Sodelli, M. (2013). Uso de drogas e Prevenção: da descontrução da postura proibicionista às ações redutoras de Vulnerabilidade. São Paulo. Editora IGLU.
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